Aos 84 anos, o arcebispo hemérito de Natal, Dom Heitor de Araújo Sales, celebra hoje 60 anos de sacerdócio. Nascido em São José de Mipibu, mudou-se ainda criança para Natal e cedo resolveu seguir a carreira religiosa. Dom Heitor recebeu o DN e concedeu entrevista sobre sua trajetória e os assuntos relativos à Igreja Católica em destaque atualmente.
Que momentos o senhor destaca dentro da sua trajetória na igreja católica?
Em 1956 fui para Roma para fazer mestrado em direito canônico, passei quatro anos estudando lá e foi um tempo muito rico. No pensionato que recebe padres de todo o mundo que vão estudar eu tive a oportunidade de fazer amizade com padres de várias partes do mundo, foi uma experiência muito boa, onde eu pude perceber a universalidade da igreja nos outros países também. Também me senti muito feliz quando participei do Concílio Ecumênico, que é uma reunião de todos os bispos do mundo. E quando fui nomeado bispo de Caicó e de Natal, todos os passos são muito importantes.
Como o senhor se sente completando 60 anos de sacerdócio?
Estou muito feliz por Deus ter me dado a oportunidade de servi-lo na igreja de maneira tão forte, tão presente, e chegar a essa idade e ainda poder fazer alguma coisa é muito bom. Eu tenho 84 anos de idade, e fui padre durante 60 anos e bispo por 32 anos. Estou há sete anos aposentado, o que na linguagem da igreja é emérito, mas eu continuo trabalhando diariamente. Celebro missas na Capela Vila Maria, e toda terça-feira estou na catedral para atender os fiéis.
O Papa Bento XVI disse em uma entrevista a um jornalista alemão, que se transformou em livro, que a igreja aceita o uso da camisinha para prevenção de contágio de doenças, e a declaração se tornou uma grande polêmica. Como o senhor enxerga essa questão?
Bom, o que a imprensa fez foi pegar uns pedacinhos de uma longa entrevista, que se tornou um grandioso livro, para polemizar. Dentro do contexto da entrevista, o que o Papa abordou a sexualidade como um grande valor que Deus deu ao ser humano para continuar a sua obra mais perfeita que é o ser humano. Deus quis garantir a continuidade do ser humano, e criou o homem e a mulher para que a união deles pudesse continuar a obra que ele iniciou no começo do mundo.
A sexualidade é uma característica belíssima do ser humano e que está virando uma espécie de brinquedo somente em busca de prazer. Então hoje a banalização do sexo tenta rebaixar a visão que Deus deu da sexualidade para uma visão meramente humana, temporal, prazerosa, e não a visão grandiosa da continuação, da riqueza da união homem mulher. O problema da camisinha é que ela leva nessa direção, na direção da banalização, é simplesmente o prazer passageiro e pronto e acabou-se, não tem nenhuma responsabilidade.
Mas existe uma campanha antiga da imprensa contra a igreja católica. E eu posso citar o que tanto se fala de padres pedófilos, a imprensa dá uma visibilidade enorme para esses casos, mas nós temos hoje cerca de 409 mil padres em todo o mundo, e, desses, muito provavelmente não se chega a 4 mil o número de padres pedófilos, ou seja, menos de 1%. Mas dos outros 99% ninguém fala.
A mídia mostra que a igreja católica vem perdendo fiéis. O senhor concorda?
Não. Na década de 50, 92% da população do Brasil era católica, mas a população do país era 70 milhões de brasileiro. Hoje nós somos 193 milhões e cerca de 75% dos brasileiros são católicos, ou se dizem católico. A porcentagem pode ter diminuído, mas o número de fiéis só aumentou.
Em Natal muitos padres entraram em campanhas políticas. Alguns distribuíram santinhos nas missas. Como o senhor encara esse tema?
Do modo como alguns padres fizeram eu não acho correto. Os padres têm que pregar os valores e orientar os fiéis a votarem em pessoas que vão fazer o bem. A igreja deve estar acima dos partidos políticos. O padre tem que ser um elemento de união e partir do momento em que ele toma uma partido e começa a fazer campanha dessa forma ele passa a ser elemento de divisão.
FONTE: Diário de Natal
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