Temos aqui uma longa e detalhada parábola de Mateus, com vários aspectos que causam estranheza. A parábola adota como imagem alguns fatos da vida real, característicos de uma sociedade oportunista, de mercado e lucro. Trata-se do senhor ambicioso que, ao viajar, determina a seus três servos que façam render seu dinheiro. Os dois servos mais "capazes" fizeram o dinheiro render cem por cento, e foram qualificados de servos bons e fieis pelo senhor, na sua volta, e foram promovidos. O servo menos "capaz" devolveu o dinheiro sem nenhum lucro. O senhor o qualificou de "mau e preguiçoso". Reclamou que ele devia ter colocado no banco para render juros. E ainda mais, o senhor até identificou-se a si próprio como aquele que "colhe onde não planta e ajunta onde não semeia", características típicas dos patrões que enriquecem se apropriando dos frutos do trabalho dos trabalhadores! O tímido servo, considerado inútil, descartável, foi lançado para fora, nas trevas... A parábola tem até o sabor de uma anedota irônica deste tipo de sociedade. Com estas características, particularmente por sua complexidade, percebe-se que a parábola foi adaptada por Mateus como advertência intimidatória às suas comunidades. Mas, como acontece em parábolas, descartando a imagem negativa de Deus, dela se pode extrair que Deus nos dá dons diversos e cabe a nós o empenho em fazê-los frutificar. Não por medo do Senhor, mas, em comunhão com ele, pela alegria e felicidade na comunicação e partilha destes dons. A segunda leitura também é um estimulo às comunidades à vigilância, na perspectiva escatológica da volta do Senhor. Temos aqui a perspectiva escatológica das primeiras comunidades, da espera da volta do Senhor. As comunidades não devem ficar ociosas nem temerosas, mas devem fazer frutificar a palavra de Jesus em vista do crescimento do Reino dos Céus. A mulher que, com seus dons, trabalha tanto no serviço doméstico como na produção para sustento da família é louvada na primeira leitura.
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