Nesta parábola exclusiva de Lucas temos um contraste entre um servo submisso e seu patrão. De início, os discípulos são convidados a se identificarem com o patrão da parábola ("Se alguém de vós tem um servo..."). Na aplicação da parábola, os discípulos são identificados com o servo (...dizei: "Somos simples servos..."). A parábola causa certo constrangimento pelas imagens usadas: por um lado o senhor proprietário rural, prepotente e gozador, e, de outro lado, um servo humilhado. Esta é uma realidade comum nas sociedades de classes, onde as elites privilegiadas exploram e humilham os pobres pequeninos e despojados de tudo. No ambiente religioso do judaísmo no tempo de Jesus, a parábola pode exprimir a relação entre a Lei opressora e o fiel oprimido, com sua obediência cega. Os primeiros cristãos extraíram da parábola um sentimento de humildade que devemos ter diante do projeto do Reino de Deus. Contudo Jesus, de outra maneira, vem revelar-nos a face de Deus Pai, amoroso e misericordioso, diferente de um deus patrão. A vida de Jesus foi toda dedicada ao serviço aos pobres e excluídos, culminando com o lava-pés dos discípulos na última ceia. E, por ele, somos convidados a assumirmos esta prática de serviço.
José Raimundo Oliva
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