domingo, 10 de janeiro de 2010

EVANGELHO DO DOMINGO

Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo eleito de Oviedo
Publicamos o comentário ao Evangelho deste domingo, solenidade do Batismo de Jesus (Lc 3, 15-22), redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca, arcebispo eleito de Oviedo.
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Deus, mais uma vez, como já fez ao escolher sua forma de nascer humano, não coincidirá talvez com nossos gostos refinados ou com nossas ideias perfeccionistas, nem com nossas eficácias infalíveis.
Ou será que nos surpreende que Deus tenha querido vir a nós do “escândalo” de uma família peregrina, sem alojamento nem seguranças, ao abrigo do deus-dará? Será que já não nos comove que aquele divino mensageiro passe a maior parte da sua vida “como se não fosse nada nem ninguém”, aprendendo a viver humanamente, para poder depois nos ensinar para sempre o que significa viver com humana dignidade?
E assim chegou o dia, o fruto maduro, a hora da estreia. Mas esse Jesus homem-Deus tampouco agora realizará algo espetacular para dar início ao seu ministério público. Não convocará coletivas de imprensa nem fará declarações. Como qualquer um entre aqueles pecadores (ainda que Ele não tenha conhecido o pecado), como mais um daqueles que oravam ao Deus buscado (ainda que Ele fosse uma só coisa com o Pai). Aparentemente nada especial, mas ali estava tudo nessa tripla solidariedade de Deus, que se une sem cerimônias a um povo, que aparece como um pecador, que tem necessidade de orar. E tripla será também a resposta do Pai: abrirá os céus, descerá o Espírito e fará a confissão de um amor predileto.
Por Jesus, na fila comum como um dentre tantos outros, podemos entrar na morada de Deus, que Ele abriu para nós. Por Jesus, na fila dos pecadores, o pecado não será a última palavra que nossa vida poderá escutar como algo fatal e sem saída. Por Jesus, na fila dos que buscam a Deus para orar e escutá-lo, descerá o Espírito como no primeiro dia da criação, transformando todo o nosso caos em beleza e harmonia.
O batismo de Jesus, depois daquele primeiro ato em seu Natal, será o segundo gesto de abraçar a nossa humanidade. O último ato será a doação suprema da sua vida no drama da cruz, o testemunho mais alto de um amor que não evitou amar-nos até a dor, até a morte, até o final ressuscitado.
Nós, irmãos e discípulos de tal Senhor, somos convidados a entrar na fila também, na comunhão solidária com todos os homens. Os cristãos também querem entrar na fila dos que não renunciam à cruz, à espera de que algo novo, que nasce cada dia, possa abrir para todos os homens os céus da luz e da vida, e seu Espírito nos encha com sua força, e seu Pai anuncie sobre nós o final de todos os lutos e orfandades, porque também cada homem e cada mulher são, em Jesus, amados prediletos de um Deus que nos ensina a ser humanos.

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