domingo, 7 de agosto de 2011

PRESENÇA TRANSFORMADORA DE JESUS - Mateus 14,22-33


Com a expressão introdutória, "logo em seguida", Mateus articula esta narrativa da travessia do mar atormentado pelas ondas com vento contrário, com a narrativa da partilha dos pães entre Jesus, os discípulos, e a multidão. Esta multidão empolga-se com o anúncio de Jesus e com a sua prática a favor delas. Inclinam-se a interpretá-lo como o messias prometido, segundo a tradição do judaísmo. Este messias esperado seria um libertador nacionalista para restabelecer a glória do antigo Israel, conforme suas antigas tradições, o qual elevaria o povo judeu a um reino de poder e domínio sobre as demais nações. O evangelho de João, na narrativa paralela a esta, esclarece que a multidão queria fazer Jesus de rei. Nem os discípulos nem a multidão percebem a dimensão libertadora e transformadora de Jesus com seu testemunho de uma nova prática de fraternidade, serviço, solidariedade, partilha, amor e misericórdia, com acolhimento a todos, descartando a reivindicação de "povo eleito". Jesus procura libertar o povo da opressão interna do próprio judaísmo, onde as elites religiosas humilham, oprimem, e exploram o povo, o que o descaracteriza como um messias no sentido tradicional. Jesus prefere despedir as multidões sozinho e manda aos discípulos que tomem um barco em retorno ao outro lado do mar, isto é, a região de Genesaré, onde se situava Cafarnaúm. Despedida as multidões, Jesus retira-se para orar. O evangelho de Mateus só narra dois momentos de oração de Jesus: este momento, após a partilha dos pães, e a oração de Jesus no monte das oliveiras, antes de sua prisão. Contudo Lucas, em seu evangelho, registra vários momentos de oração de Jesus. O mar é o imprevisível que ameaça a missão. Os discípulos se atemorizam diante das dificuldades do mar agitado e sentem-se só, com medo. Embora Jesus se aproxime, eles não o compreendem logo. Em vez de sua presença real, a presença de Jesus fica mais como um ato de imaginação. Jesus andando sobre as águas se associa ao Espírito de Deus que pairava sobre as águas na criação. Esta narrativa tem um estilo de teofania, que se caracteriza por manifestações divinas excepcionais, articuladas com manifestações milagrosas da natureza (o vento e o mar acalmados) e tem certa semelhança com a teofania da passagem de Deus diante de Elias no monte Sinai. O temor dos discípulos e o confundir Jesus com um fantasma, indicam a incompreensão da proposta de Jesus. A fala de Jesus: "...sou eu..." lembra a revelação do nome de Deus a Moisés: Deus é o que é, o que existe e o que está presente em nossas vidas. A vacilação de Pedro ao andar sobre as águas, entre a fé e a dúvida, induz as comunidades a compreenderem a importância de uma fé firme e decidida. Contudo, não há nada a temer. Jesus sobe na barca e o próprio vento cessa. A narrativa encerra-se com a confissão de fé a partir da palavra e presença transformadora de Jesus.

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