É próprio do ser humano a necessidade de referências e de modelos que o ajude a se constituir como individuo singular. Ao nascermos, somos lançados num mundo que é anterior a nós, do qual passamos a participar irreversivelmente. Desde o momento de nossa concepção damos início a um processo de constituição de nossa identidade e de nossa personalidade que apenas se encerrará com a nossa morte. Neste processo de elaboração de nossa identidade contamos com a ajuda, principalmente, daqueles com quem convivemos mais. Daí a grande importância da família: é ela quem nos oferece não apenas a base biológica de nossa vida, mas, também, as primeiras referências humanas e espirituais que levaremos para sempre conosco.
Ao encarnar-se, assumindo a condição de servo e tornando-se igual aos homens (Fl 2,7), Jesus também contou com referências humanas na realização de sua missão. Para comunicar a salvação e a vida plena em abundância para todos (Jo 10,10), fez uso, mesmo que, em alguns casos, discretamente, de linguagem e referências humanas. Neste sentido, não é de nenhum modo exagerado reconhecermos a significativa participação de Maria na vida Jesus.
A mansidão, a generosidade e a humildade que encontramos nas palavras e gestos de Jesus, atributos próprios do coração misericordioso de Deus, são características que também encontramos em Maria conforme as poucas referências que temos sobre ela no Novo Testamento. Existe uma grande semelhança entre o “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), dito por Maria na cena da Anunciação, e o “Estou no meio de vós como aquele que vos serve” (Lc 22, 27) dito por Jesus na véspera de sua paixão. Esta semelhança nos revela o quanto Maria participou na missão do próprio Filho, inspirando-o e sendo uma de suas referências de disponibilidade e amor gratuito.
Maria esteve presente em todos os momentos da vida de seu Filho, desde a sua encarnação até a sua paixão, morte e ressurreição. A recordação desta participação de Maria na missão de Jesus é facilitada pela oração do Rosário, onde “o povo cristão aprende de Maria a contemplar a beleza do rosto de Cristo e a experimentar a profundidade de seu amor. Mediante o Rosário, o cristão obtém abundantes graças, como recebendo-as das próprias mãos da mãe do Redentor” (Documento de Aparecida, n. 271).
Tal como Maria inspirou profundamente a missão de Jesus, ela também é inspiradora da missão da Igreja continuadora de Jesus Cristo no mundo. “Com os olhos postos em seus filhos e em suas necessidades, como em Caná da Galiléia, Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho. Indica, além do mais, qual é a pedagogia para que os pobres, em cada comunidade cristã, ‘sintam-se como em sua casa’. Cria comunhão e educa para um estilo de vida compartilhada e solidária, em fraternidade, em atenção e acolhida do outro, especialmente se é pobre ou necessitado. Em nossas comunidades, sua forte presença tem enriquecido e seguirá enriquecendo a dimensão materna da Igreja e sua atitude acolhedora, que a converte em ‘casa e escola da comunhão’ e em espaço espiritual que prepara para a missão” (Documento de Aparecida, n. 272).
Ao entregar a sua mãe aos cuidados do discípulo amado (Cf. Jo 19, 26-27), é como se Jesus estivesse dizendo para nós: “levem sempre com vocês o exemplo de minha Mãe, inspirem-se sempre nela em todas as horas de suas vidas”. O Papa Bento XVI, ao final da oração do Rosário no Santuário de Aparecida durante sua visita em maio de 2007, convocou-nos para permanecermos firmes na escola de Maria: “Inspirai-vos em seus ensinamentos, procurai acolher e guardar dentro do coração as luzes que ela, por mandato divino, vos envia lá do alto”.
Enfim, podemos dizer com toda certeza: para sermos cristãos, autênticos discípulos-missionários do Pai, precisamos ser também “marianos” em nosso gestos e palavras, porque Cristo foi-nos dado pelos braços de Maria, pelo seu ministério maternal que nos conduz a Ele pelo caminho do exemplo e da intercessão. Porque Maria é a “figura” mais perfeita de semelhança com Cristo e permanente inspiração para a vida e missão da Igreja. Que seu exemplo possa nos animar e inspirar em todas as ocasiões de nossas vidas, como somos chamados a devotamente rezar todos os dias: “agora e na hora de nossa morte. Amém”.
Pe. Fábio Evaristo Resende Silva, C.Ss.R
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