Nesses dias da novena e festa de nossa Mãe Aparecida temos o privilégio de contemplar a vida de Maria e aprender com ela a viver no coração de Deus. Desde a Anunciação até o Calvário, a vida de Maria é para nós um exemplo de quem acolheu Cristo e nunca mais se separou dele.
O relato da Anunciação está centrado em Jesus, o Filho de Deus. A Encarnação é o mistério que se realiza pela aceitação de Maria. Segundo a narração de São Lucas, o anjo encontrou Maria em seu quarto, em silêncio e oração. Silêncio de quem se encanta ao ouvir a voz de seu amado, oração de quem deseja colocar a própria vida em disponibilidade para colaborar com a ação de Deus na face da Terra.
Depois de saudá-la com as palavras que hoje recitamos na oração da Ave Maria, “Ave! Cheia de Graça”, o anjo passa a expor para ela o plano de Deus. Tudo está preparado e pensado por Deus, mas depende do consentimento da Escolhida. Antes de dar a resposta, Maria faz uma pergunta, com toda delicadeza, com toda naturalidade: “Como acontecerá tudo isto”? Nesta passagem nós encontramos as primeiras palavras de Maria, segundo o Evangelho de Lucas. Maria pensa rápido sobre o que acabou de ouvir, ela é inteligente e deseja entender o que se passa. O diálogo prossegue. Nas poucas palavras de Maria podemos colher dados importantíssimos sobre a sua personalidade, seu caráter e sentir toda sua grandeza humana. Ela não dá seu consentimento sem certificar-se que se trata de uma obra de Deus. Seu amor a levará a confiar, mas sua inteligência buscará compreender. Se não for possível entender no momento, ela guardará cada palavra, cada fato e continuará meditando em seu coração para mergulhar mais fundo no mistério de Deus.
Até o momento da anunciação Maria vivia voltada para Deus, no seu silêncio e na sua vida de oração. Mas logo em seguida, ela descobre que não é apenas destinatária de tão grande graça de Deus, ela é agora portadora dessa graça. O coração de Maria transborda de alegria ao sentir que Deus veio visitá-la para gerar nela o Cristo, vida do mundo. Com o coração agradecido ela quer também ser geradora de vida e alegria. A dádiva de Deus que ela acabara de receber não era apenas para ser guardada, era para ser partilhada. Seu coração que acolheu Cristo torna-se um coração gerador de vida. Ela vai ao encontro de Isabel, com a alma em festa, levando o menino Jesus em seu seio. Ela é a nova Arca da Aliança, que semeia um rastro de bênçãos por onde passa. Isabel representa o povo de Israel que espera a intervenção salvadora de Deus, Maria é o seio que gera o Salvador. A visita é a realização do encontro de duas mães, Isabel e Maria, de dois filhos, João e Jesus. Ali acontece a grande manifestação da glória de Deus, pois, o tempo da espera termina, começa, com Jesus, o tempo do cumprimento de tudo o que foi prometido por Deus e esperado pela humanidade.
A alegria de Maria tem sua fonteem Deus Salvadorque cumpre suas promessas. Maria sente-se inserida no plano de Deus e proclama a alegria de sua maternidade através da qual nascerá um filho, o Deus que vem morar entre nós.
Assim como João Batista supera a todos os profetas nascidos de mulher(Mt 11,11), porque anuncia a chegada do Cristo encarnado, presente e atuante na história humana, do mesmo modo Maria supera a todas as pessoas, homens e mulheres do Antigo Testamento. O acontecimento salvífico, do qual Maria é chamada a fazer parte, não é um evento particular da história da Salvação, mas é agora o núcleo da história. A força redentora de Deus já está agindo no mundo e Maria vive uma profunda alegria por fazer parte dessa obra de Deus que já está sendo realizada com a Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
No encontro com Isabel, Maria canta a alegria de sentir Deus presente em sua vida. Um Deus que se faz um de nós, que vem para levar ao pleno cumprimento o que no Antigo Testamento era só promessa e esperança. A Mãe de Jesus sente-se tão amada por Deus que decide fazer da sua vida um hino de louvor e gratidão ao Deus que a amou primeiro.
O cântico do Magnificat traz em si a esperança e a alegria das primeiras comunidades cristãs formadas por israelitas que tinham no Primeiro Testamento a fonte de sua inspiração religiosa. Pela boca de Maria falam ao mesmo tempo a sinagoga e a igreja nascente; Israel que espera a salvação prometida e a igreja nascente que contempla esta salvação como realidade já operante. O Israel do Primeiro Testamento e a Igreja da nova aliança se unem na alma de Maria para proclamar a grandeza do Senhor. “Proclama minha alma a grandeza do senhor, se alegra meu espírito em Deus meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. De agora em diante todas as gerações me chamarão de bem aventurada”(Lc1,47-48).
O cântico de Maria reflete a sua consciência profética. Ela não tece louvores a Deus por coisas abstratas, ou somente pela beleza da criação. Maria reconhece antes a ação transformadora de Deus nas relações sociais. Anuncia, com esperança, o novo tempo que se inicia com Jesus. Mostra assim que não é uma mulher voltada apenas para os interesses pessoais ou de sua família, mas uma mulher totalmente comprometida com a vida e a história de seu povo. Seu coração, plenificado pelo amor divino é e será um coração gerador de vida para todas as pessoas em todos os tempos.
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