A 13ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos acontece entre 07 e 28 de outubro de 2012, mas desde já a Igreja Católica prepara-se para debater o tema da Nova evangelizatio ad christianam fidem tradendam (A nova evangelização para a transmissão da fé cristã).
Os Lineamenta da Assembleia foram apresentados em uma coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé, nesta sexta-feira, 4. Esse documento busca apresentar brevemente o estado da questão a ser debatida no Sínodo, indicar aspectos positivos na vida e na missão da Igreja e levantar aspectos problemáticos ou que precisam de aprofundamento.
O texto foi apresentado em português, latim, italiano, inglês, francês, alemão, espanhol e polonês. Participaram da coletiva o secretário-geral do Sínodo dos Bispos, Dom Nikola Eterović, e o subsecretário do Sínodo, Dom Fortunato Frezza.
Uma das missões mais importantes para a vida e missão da Igreja é a evangelização. O motivo de convocação do Sínodo, segundo Dom Eterović, é porque a Igreja deseja, "com renovado entusiasmo, continuar tal missão também no tempo presente, [...] para retomar com novo ímpeto a obra urgente da evangelização no mundo contemporâneo".
A escolha do tema contou com ampla participação de diversos organismos eclesiais, cuja grande maioria apontou como tema proposto para a próxima assembleia a questão da transmissão da fé, uma vez que tal processo passa por muitas dificuldades devido às grandes transformações na ordem social, cultural e religiosa. A recente criação do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização também pesou para a escolha do tema.
"Qualquer projeto de 'nova evangelização', qualquer projeto de anúncio e de transmissão da fé, não pode ignorar esta necessidade de ter homens e mulheres que, com a sua conduta de vida, dão força ao empenho evangelizador que vivem" (22), indica o texto.
Todos os capítulos dos Lineamenta são acompanhados de diversas perguntas, destinadas a facilitar a reflexão das Igrejas particulares e seus respectivos organismos. O Questionário é composto, ao todo, por 71 questões.
O texto está dividido em três capítulos: 1) Tempo de "nova evangelização"; 2) Proclamar O Evangelho de Jesus Cristo; 3) Iniciação à experiência cristã. Além disso, há uma Introdução, precedida de um Prefácio. O Documento encerra-se com uma breve Conclusão.
1 – "Tempo de Nova Evangelização"
Descreve como surgiu o conceito de nova evangelização e a sua difusão ao longo dos Pontificados de João Paulo II e de Bento XVI. O termo foi usado pela primeira vez por JPII durante a visita à Polônia, em 1979, e reafirmado durante a 19ª Assembleia do CELAM, em Porto Príncipe, em 1983, com pano de fundo na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi, do Servo de Deus Paulo VI, que já falava em "novos tempos de evangelização" (EN 2).
As reflexões sobre o conceito, propostas pelos Lineamenta, são indicadas a partir de seis cenários que, especialmente ao longo dos últimos anos, desafiam a Igreja a encontrar respostas adequadas, para que também eles tornem-se lugares de testemunho dos cristãos, chamados a transformá-los com o anúncio do Evangelho: secularização; fenômeno migratório; meios de comunicação; cenário econômico; pesquisa científica e tecnológica e o mundo político.
"Os cristãos são chamados a levar a questão sobre Deus para o interior desses cenários, iluminando-os com a luz do Evangelho e levando o seu testemunho. [...] É preciso dar sabor evangélico aos grandes valores da paz, da justiça, do desenvolvimento, da libertação dos povos. [...] Tal missão oferece grandes possibilidades ao diálogo ecumênico com os pertencentes às outras Igrejas e comunidade eclesiais, bem como ao diálogo inter-religioso com denominações não cristãs, sobretudo com as grandes religiões orientais", ressalta o secretário-geral do Sínodo.
" A nova evangelização é o contrário da auto suficiência e de fechamento em si mesmo, da mentalidade do status quo e de uma visão pastoral que considera suficiente continuar a fazer como sempre se fez" (Lineamenta, 10), ressalta o texto hoje apresentado.
2 – Proclamar o Evangelho de Jesus Cristo
A principal razão da nova evangelização é o anúncio do Evangelho e a transmissão da fé, recorda os Lineamenta: "O objetivo da transmissão da fé é, portanto, a realização deste encontro com Jesus Cristo, no Espírito, para chegar a fazer a experiência do Seu e do nosso Pai" (11).
Os cristãos são convidados a estabelecer um relacionamento pessoal com Jesus na comunidade da Igreja, que transmite a fé que ela mesma vive e que configura o seu anúncio, testemunho e caridade. Essa transmissão acontece através da oração, que é fé em ato, de modo ainda mais preciso na liturgia, enquanto lugar privilegiado e que tem papel pedagógico insubstituível.
"O clima cultural e a situação de cansaço em que se encontram várias comunidades cristãs corre o risco de enfraquecer a capacidade de anúncio, de transmissão e de educação para a fé das nossas Igrejas locais" (15), recorda o texto. Essa situação exige um novo ímpeto, zelo renovado, para repropor com alegria e fervor o anúncio da Boa Nova.
Os Lineamenta também indica que o testemunho cristão deve ser privado e público, abraçando pensamento e ação, vida interna da comunidade e o seu aspecto missionário, a atividade educativa e caritativa, comunicando a esperança cristã para a sociedade contemporânea: "A finalidade de todo o processo de transmissão da fé é a edificação da Igreja como comunidade de testemunhas do Evangelho" (17).
3 – Iniciação à Experiência Cristã
Propõe uma reflexão sobre os instrumentos da Igreja para introduzir a fé, particularmente os Sacramentos da Iniciação Cristã: Batismo, Crisma e Eucaristia. As práticas das comunidades eclesiais suscitam uma série de questões, algumas das quais mencionadas nos Lineamenta.
Buscar uma colocação compartilhada da etapa do Sacramento da Crisma entre as diferentes tradições e ritos existentes na Igreja é um desafio que se apresenta, já que há diferenças no que diz respeito à administração do sacramento aos jovens.
A importância da Catequese também é ressaltada, uma vez que auxilia os fiéis a amadurecerem a própria conversão e educa a fé. Nessa perspectiva, a nova evangelização também requer que os fiéis depositem mais confiança no Espírito Santo, para que possam perceber com mais lucidez os lugares e modos apropriados de colocar a questão de Deus ao centro da vida dos homens de hoje, de acordo com suas expectativas e ansiedades.
Na sociedade contemporânea, qualquer ação educativa enfrenta dificuldades para se concretizar, de tal forma que é cada vez mais desafiador transmitir ás novas gerações os valores de fundo de um comportamento reto. O relativismo, que exclui a luz da verdade, é um dos motivadores desse contexto.
A missão da Igreja de educar assume ainda mais o papel de contribuição preciosa para fazer com que a sociedade saia da crise educativa, já que a comunidade eclesial possui uma grande tradição de escolas, institutos, recursos pedagógicos e pessoal especializado. Dessa forma, a atual emergência educativa requer educadores que saibam ser testemunhas credíveis dos valores em que se pode fundar a existência pessoal e do projeto de sociedade humana pelo qual vale a pena comprometer-se.
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