domingo, 25 de setembro de 2011

O PRIMEIRO FILHO FEZ A VONTADE DO PAI - Mateus 21, 28-32


As parábolas são uma forma literária à qual se recorre para tornar compreensível uma realidade que se deseja revelar. Nos evangelhos encontramos quarenta e quatro parábolas. Dentre elas, temos várias que são encontradas nos três evangelhos sinóticos. Outras são próprias de um ou de outro evangelista. Assim temos duas parábolas que são exclusivas de Marcos, nove exclusivas de Mateus, dezoito exclusivas de Lucas, e duas exclusivas de João. A parábola de hoje, exclusiva de Mateus, é dirigida aos chefes religiosos de Jerusalém, membros do Sinédrio, por ocasião da chegada de Jesus, com seus discípulos, a esta cidade. O Sinédrio de Jerusalém, que funcionava como Suprema Corte do judaísmo, sob a presidência do Sumo Sacerdote, era formado pelos sacerdotes, escribas, e anciãos, sendo estes, principalmente, latifundiários de prestígio. Questionado por eles, Jesus os confunde interrogando-os sobre a autenticidade divina do batismo de João, e dirige-lhes esta parábola. A parábola, de extrema simplicidade na sua imagem e no seu significado, indica dois tipos de comportamentos dos filhos daquele pai. Não está posto em questão o fato da mudança de posição em relação à afirmação inicial; ambos mudaram. O que está em questão é o objeto de sua adesão: o cumprimento da vontade do Pai. O primeiro filho se indispôs a cumprir a vontade do Pai, mas depois mudou e a fez. O segundo filho se dispôs a cumpri-la, mas não a fez. Agora questionados por Jesus, os chefes religiosos e autoridades respondem imediatamente e com clareza, que foi o primeiro filho que fez a vontade do pai. Jesus, então, lhes argumenta que não foi isto que eles próprios fizeram, identificando-se assim com o segundo filho, que, embora afirmando-se disposto a fazer a vontade do pai, na realidade abandonou-a. João Batista veio anunciando a vontade do Pai na conversão e na prática da justiça, mas os chefes de Israel não acreditaram nele (cf. primeira leitura). Julgavam-se justos por serem observantes da Lei e de se proclamarem filhos de Abraão, com o que pretendiam ter a salvação garantida. O próprio João clamara: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, então, frutos de arrependimento e não penseis que basta dizer: 'Temos por pai a Abraão...'" (Mt 3,7b-9). É contundente a sentença final de Jesus: "Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus... pois os publicanos e as prostitutas acreditaram em João... mas vocês não..." Aqueles que estão à margem da sociedade acolhem Jesus, enquanto que as elites o rejeitam. É a expressão de uma sociedade fundada em valores e estruturas equivocados. Suas elites se afirmam em torno do poder e do dinheiro, muitas vezes procurando respaldo no poder religioso, e humilham, exploram, e excluem os humildes, fracos, pequenos e pobres. Estes excluídos se unem em torno de Jesus que se fez igual a eles (segunda leitura). Para Deus o essencial é a prática atual da justiça e do amor, independentemente do passado ou de pretensos direitos religiosos adquiridos.

 
José Raimundo Oliva

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