domingo, 18 de setembro de 2011

O TRABALHO É MEIO DE SUBSISTÊNCIA - Mateus 20, 1-16a

Após abordar o tema do desprendimento face à ambição das riquezas, Mateus insere uma parábola narrativa, que é de sua exclusividade, dentro do lema: "os últimos serão o primeiros, e os primeiros serão os últimos", que não se adapta bem à parábola. Ela é dirigida às comunidades de judeo-cristãos que estavam em conflito com as sinagogas. Os judeus das sinagogas rejeitavam aqueles que aderiram ao cristianismo e ameaçavam expulsá-los de seu convívio. Eles não admitiam que, no cristianismo, os pagãos se considerassem eleitos de Deus, assim como eles próprios se consideravam, conforme sua tradição do Primeiro Testamento. Mateus quer instruir estas comunidades de judeo-cristãos no sentido de que compreendam que, pela revelação de Jesus, Deus não faz distinções entre privilegiados e excluídos, tratando a todos com misericórdia e amor, em igualdade de direitos. No seu amor abrangente, Deus não se limita ao exclusivismo pretendido pelo judaísmo. Assim, na parábola os trabalhadores de última hora (os gentios), ao receberem seu pagamento, são tratados em pé de igualdade com os primeiros que vieram trabalhar na vinha (o povo de Israel). As parábolas partem de imagens extraídas da vida real. Analisando as imagens desta parábola de hoje, vemos que, no cenário, aparecem o dono da vinha, imagem característica na tradição de Israel, e os trabalhadores desocupados na praça, cena característica de uma cidade grega. Estes "desocupados" não eram indolentes, mas curtiam a amargura do desemprego e da busca de um trabalho para a sobrevivência diária, excluídos pelo sistema social. Por um lado, pode-se ver na parábola a expressão da simples generosidade do proprietário que convocou os operários. Com pena dos últimos, decidiu dar-lhes o mesmo que aos outros. Por outro lado, pode-se analisar nestas imagens o significado do trabalho. O trabalho não é mercadoria que se vende, avaliado pela quantidade da produção que dele resultou. O trabalho é o meio de subsistência das pessoas e da família, bem como é serviço à comunidade, pela partilha de seus frutos. Todos têm direito ao essencial para a sua sobrevivência. Na parábola, a todos foi dado o necessário para a sobrevivência de um dia, independentemente da quantidade de sua produção. A venda do fruto do trabalho por um salário é uma alienação da dignidade do trabalhador e da trabalhadora. É vender uma parte do seu ser, de seu próprio corpo, do fruto de seu trabalho, para a acumulação de riqueza e prazer do patrão. A conversão é o seguimento do caminho de Deus (primeira leitura) que leva à prática de uma cidadania digna (segunda leitura).

José Raimundo Oliva

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