domingo, 4 de setembro de 2011

ORIENTAÇÕES SOBRE CORREÇÃO FRATERNA - Mateus 18, 15-20


O evangelho de Mateus se caracteriza por ser uma apresentação de Jesus, suas palavras e seus feitos, adaptada às comunidades de discípulos que vieram do judaísmo. No texto do evangelho de hoje, Mateus insere algumas orientações sobre a correção fraterna em uma fala de Jesus sobre as regras de convívio nas comunidades. As orientações são apresentadas após a abordagem das questões da disputa pelo poder, do escândalo, e das defecções (Mt 18,1-14). Assim, Mateus tem em vista manter a harmonia na comunidade. Em geral, há uma tendência de simplesmente excluir alguém que é considerado problemático. Conflitos, sensibilidades feridas e ofensas são comuns neste convívio. Contudo deve-se procurar superá-los com a mudança dos comportamentos que provocam estes conflitos, sem defecções. Com seu texto, Mateus desenvolve, para sua comunidade, um simples dito tradicional de Jesus, que será mencionado por Lucas. Em Lucas, de maneira singela, a questão envolve apenas duas pessoas, ficando em evidência a prática do perdão. Em Mateus temos a ampliação do dito colhido na tradição das primeiras comunidades, dando-lhe um caráter de regra de procedimento para suas comunidades. Existem semelhanças entre esta abordagem de Mateus e a prática da comunidade dos essênios de Qumran. Há autores que sugerem que Mateus sofre a influência desses essênios. Conforme Mateus, a prática do perdão, na comunidade, se dá em três estágios. O diálogo entre os dois irmãos envolvidos, a ampliação do diálogo envolvendo duas ou três testemunhas e, finalmente, a questão debatida pela igreja (comunidade). Percebe-se uma metodologia formalizada em regra. Hoje ela pode apenas inspirar uma prática do perdão e da reconciliação de uma maneira mais livre, espontânea e verdadeira. A correção fraterna, que brota do amor e do perdão, é fundamental para manter-se a unidade na comunidade.

No desfecho deste processo de correção fraterna apresentado por Mateus, parece discriminatória a rejeição final com a recomendação de que aquele que mesmo à igreja não ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano (coletor de impostos). É estranha esta recomendação, uma vez que o empenho de Jesus era conviver com estas publicanos e pagãos, tidos como pecadores. Percebe-se, assim, seria contraditório considerar que Levi, o publicano - coletor de impostos, também chamado Mateus, seja o autor deste texto. Mateus articula, em conclusão, três sentenças: uma sobre o poder de ligar e desligar na terra, relacionada à tradição do primado de Pedro, surgida a partir dos anos oitenta (cf. Mat 16:19); outra destacando da importância de orar em comunidade e a terceira assegurando a presença de Jesus entre os discípulos reunidos e seu nome. Esta presença de Jesus entre os discípulos tem sentido especial no momento em que não mais existe o Templo onde se pretendia ter a presença de Deus. O emprego da palavra "reunidos" (sinagogain) indica a substituição da sinagoga pela comunidade. A presença de Deus, Jesus, se dá na comunidade que vive o amor misericordioso, vigilante para a reconciliação e a comunhão. "O amor é o cumprimento perfeito da Lei". A primeira leitura vai em uma perspectiva mais ampla. Trata-se da denúncia profética que deve ser feita do pecado existente nas estruturas sociais resultante da prática de pessoas injustas.

José Raimundo Oliva

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