domingo, 16 de janeiro de 2011

JOÃO DÁ TESTEMUNHO DE JESUS - João 1,29-34

No evangelho de João não encontramos a narrativa do batismo de Jesus. Tal referência limita-se ao testemunho de João Batista: "Eu vi o Espírito descer do céu. e permanecer sobre ele. é ele quem batiza com o Espírito Santo. Eu vi. e dou testemunho: ele é o Filho de Deus!". Ao escrever seu evangelho, João faz dois relatos teológicos básicos: da preexistência e da filiação divina de Jesus. Estes dois temas, presentes no Prólogo (Jo 1,1-18), reaparecem aqui, na fala de João Batista: "antes de mim ele já existia", " ele é o Filho de Deus."; e, ao longo do evangelho, desenvolvem-se na seguinte linha dinâmica: o Filho, descido do céu, se faz carne, vive conosco e volta ao Pai, abrindo caminho para nosso ingresso na casa de Deus. Em todo o evangelho, Jesus é apresentado como Filho de Deus, não como filho de Davi. A alusão ao "cordeiro de Deus", quando João Batista apresenta Jesus, remete ao cordeiro sacrifical abundantemente mencionado em Levítico, e também em Isaías 53,7, no quarto canto do Servo. Vê-se aí a prefiguração simbólica da morte de Jesus, inocente, nas mãos dos sacerdotes que procuram preservar o poder. O próprio João afirma que não conhecia Jesus. Porém, com o seu batismo na água, simbolizando o apelo em favor da conversão à prática da justiça que supera o pecado, abria caminho para Jesus, que com seu Espírito liberta a todos da morte, dando acesso às portas da vida eterna em Deus. O Espírito sobre Jesus é a confirmação da sua divindade e da divinização de toda a humanidade nele assumida, em todos seus valores e em toda sua dignidade, pela própria humanidade de Jesus. Este é o sentido da encarnação: assumir os valores humanos, resgatando a dignidade humana e elevando-a à condição de filiação divina. Nesse sentido, Jesus assume o batismo de João. Os evangelistas, em seus evangelhos, procuram projetar a figura de Jesus a partir das exaltações atribuídas a João Batista: "Vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias.". Com isso procuravam, em seu tempo, atrair os discípulos de João Batista, que seguiam de maneira autônoma ao movimento de Jesus. Com bastante certeza, pode-se entender que João Batista não tinha percepção da profundidade da missão de Jesus, o que os próprios discípulos de Jesus tiveram, também, dificuldade de entender até o fim de seu ministério. João Batista tem uma atuação fundamental no projeto de Deus realizado em Jesus. O seu batismo tinha características originais, e sua proclamação foi tão marcante que o tornou conhecido como "o Batista". Enquanto as abluções rituais de purificação com água, tradicionais entre os judeus, eram repetidas com frequência, o mergulho nas águas do batismo, com João, era feito uma única vez e tinha o sentido de sinalizar uma mudança de vida, para um compromisso perene com a prática da justiça que remove o pecado e fortalece a vida. Jesus assume a proclamação de João dando-lhe novo sentido de atualidade e eternidade, identificando-a com o projeto de Deus de conferir vida plena e eterna à humanidade. A libertação dos pecados não se dá pelos sacrifícios cultuais sangrentos, mas pelo amor e pela prática da justiça, para que todos tenham vida plenamente.

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