Marcos inicia seu evangelho diretamente com a inauguração do ministério de Jesus, a partir do batismo de João. Por sua vez, Mateus, que escreve mais de uma década após Marcos, introduz as narrativas da infância de Jesus antes do seu batismo. Tais narrativas - de caráter teológico, com a forma literária do midraxe judaico, na qual se busca o sentido de um acontecimento atual com base nos textos sagrados do Primeiro Testamento - abrangem: a genealogia de Jesus; o anúncio do anjo a José sobre a concepção de Maria por obra do Espírito Santo; a adoração dos magos do Oriente, introduzida com a curta notícia do nascimento de Jesus: "Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes"; a fuga da família para o Egito; a matança das crianças em Belém; e o estabelecimento da família em Nazaré. Com essas narrativas, utilizadas para introduzir o ministério de Jesus, Mateus quer fundamentar que em Cristo realizam-se as promessas messiânicas do Antigo Testamento. Assim, têm como referências básicas a estrela de Jacó (Nm 24,17 - que se transformou em "estrela de Davi"), a visita da rainha de Sabá a Salomão (1Rs 10,1-2) e a profecia de Isaías (primeira leitura), a qual exprime a expectativa de que um dia Jerusalém será o centro de poder e dominação de Israel sobre o mundo, e para aí afluirão as riquezas das nações. Epifania é uma palavra de origem grega que significa manifestação externa, aparecimento ostensivo, e era aplicada a visitas ou acontecimentos envolvendo imperadores ou reis. Mateus a utiliza para a manifestação do recém-nascido Jesus aos magos do Oriente, os quais simbolizam o mundo todo. Na segunda leitura, na carta aos Efésios, essa universalidade acontece com a admissão dos pagãos à mesma herança que os judeus por meio do evangelho. O evangelho de Mateus, com estilo catequético e institucional, foi o que mereceu maior destaque na tradição do Cristianismo. Contudo, o de Marcos, o primeiro a ser escrito dentre os quatro canônicos, é o que mais deixa transparecer a dimensão humana na encarnação da pessoa divina de Jesus. Nele, a manifestação (epifania) de Jesus se faz por meio do batismo realizado por João Batista (cf. 9 jan.). Encontramos aí a expressão mais concreta da universalidade do Reino dos Céus pela totalidade da humanidade assumida em Jesus na encarnação e pelo batismo da conversão à justiça, ao qual todos são convidados, sem distinção de raça e nação, para a construção do mundo novo, sem dominadores, na fraternidade e na paz.
domingo, 2 de janeiro de 2011
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