terça-feira, 19 de abril de 2011

AMIGO JOÃO PAULO II: O SOFRIMENTO DE WANDA

Wanda em Roma, enquanto reza na Praça de São Pedro
Wanda Póltawska conheceu Karol Wojtyla em 1950, em Cracóvia. Ela tinha 29 anos e ele, 30. Wojtyla era sacerdote há quatro anos, assistente espiritual dos jovens estudantes universitários, e Wanda já havia concluído seu curso de medicina e frequentava sua especialização em psicologia e psiquiatria.

Nascida em Liblino, em 1921, em uma família muito católica, Wanda teve uma infância muito serena e tranquila. Em 1939, com 18 anos, ela entrou no grupo Resistência partidária, como fizeram vários jovens do país, para defender a pátria da invasão nazista à Polônia. No entanto, ela foi descoberta, presa e enviada ao famoso campo de concentração nazista de Ravensbrück, onde passou quatro anos de verdadeiro martírio.

Além das humilhações, fome, trabalho pesado, violências físicas e morais, Wanda e outras companheiras de calvário foram escolhidas, em determinado momento, como cobaias para uma série de experimentos científicos. Transferidas para uma espécie de enfermaria, eram submetidas a intervenções cirúrgicas, mutilações, retirada de pedaços de ossos, injeções de bactérias nas feridas para provocar infecções e gangrenas, que eram posteriormente tratadas com outros produtos químicos. Quase todas morriam uma após outra e Wanda sobreviveu quase que por milagre.

Ao se ver livre do campo de concentração, voltou a estudar, concluiu medicina, mas dentro de si continuava rodeada e atormentada por uma série de pesadelos. Sentia-se uma mulher finita, que lutava desesperadamente com os fantasmas do passado, sem conseguir derrotá-los. Tinha medo de si mesma, dos outros, da vida. Nesse contexto, os princípios cristãos que tinha recebido desde criança colidiam espantosamente com a crueldade que havia sofrido no campo.

A amizade

Wanda busca auxílio, sobretudo junto a sacerdotes, mas não encontrava nenhum disposto a escutá-la e compreender seus problemas. Em 1950, encontrou Karol Wojtyla e ficou tocada pelo fato de que era uma pessoa que a "escutava". Ele torna-se seu confessor e diretor espiritual. Wojtyla desempenhou papel crucial no processo de cura da alma de Wanda, de auxiliá-la a reencontrar a si mesma e a confiança em seus semelhantes. À medida que a conhecia melhor, Wojtyla compreendeu que aquele encontro não era casual.

Habituado a ver as coisas de um ponto de vista místico, convenceu-se de que os terríveis sofrimentos que aquela jovem sofreu e suportou não eram coisas que diziam respeito somente a ela própria. Pelo mistério do "Corpo místico de Cristo", diziam respeito a todos, em especial, talvez, a ele mesmo, que havia sido poupado da guerra. Durante os anos em que Wanda "morria" em campo, ele havia descoberto sua vocação ao sacerdócio. E, então, cabia a ele, sacerdote, a missão de "curar" as feridas que o campo havia deixado na alma daquela pessoa.

Não eram coincidências casuais, havia uma ligação, um vínculo, e essa sua convicção tornou-se, pouco a pouco, consciência. Revelou-o ele mesmo à doutora Wanda em um dos momentos mais importantes de sua existência, em 20 de outubro de 1978, quatro dias após ser eleito Pontífice da Igreja. Em uma longa e belíssima carta a Wanda, a primeira que escreveu já como Papa, quis afrontar abertamente a questão da sua amizade. Amizade que agora poderia ser mal interpretada por estranhos. Mas era uma amizade "arraigada e alicerçada em Deus, em Sua graça", como ele escreveu, e, portanto, devia continuar.

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