O evangelho de João tem como uma de suas principais características os longos diálogos de Jesus, carregados de simbolismo e que se desenvolvem a partir de cenas impregnadas de realismo e suspense. A mensagem central do diálogo de hoje é a acolhida à revelação de Jesus, enfatizada pelo contraste entre o "ver" e o "cego". No texto encontramos 14 vezes a palavra "cego" e 18 referências ao "ver". Os fariseus continuam cegos e expulsam da sinagoga aquele que vê. Aqueles que na Lei de Israel acham que vêm tudo, na realidade, como cegos, não vêm a novidade da luz de Jesus. Por três vezes há uma referência à expulsão da sinagoga: os pais do cego curado "tinham medo dos judeus pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Cristo"; o cego finalmente é expulso da sinagoga; e Jesus fica sabendo que o expulsam. Há aqui uma alusão do evangelista ao fato de os cristãos originários do judaísmo, os quais até então freqüentavam as sinagogas, terem sido expulsos das mesmas pelos chefes fariseus, cerca do ano 80. Isto porque estes fariseus pretendiam rigidamente reencontrar sua identidade judaica através a estrita observância da sua Lei, uma vez que com a destruição do templo de Jerusalém no ano 70 pelos romanos, esta identidade ficara abalada. O texto da primeira leitura, surgido no ambiente das elites do palácio real e do Templo de Jerusalém, exalta a figura de Davi, "de belos olhos e aparência formosa", com o "Espírito do Senhor". Contudo Jesus, com a proclamação de sua Boa Nova, denunciou e rejeitou o centralismo de poder político e religioso no Templo de Jerusalém e a sua opressão, que tem raízes na tradição da realeza davídica. Denunciou também a hipocrisia das aparências que ocultam ambição de poder e dominação. Em Jesus manifesta-se a luz da bondade da justiça e da verdade, que revela os segredos ocultos.
domingo, 3 de abril de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário